Os brasileiros estão revoltados com a violência no Brasil, e muitos deles decidem publicar suas indignações nas redes sociais, infelizmente, na maioria das vezes, através de frases de ódio, com 'soluções' um tanto desarrazoadas, quando não hipócritas.

Mesmo com as facilidades proporcionadas pela tecnologia, há uma quantidade absurda de propalação de desinformações, revelando uma preocupante ignorância em massa.

Infelizmente, a imensa maioria das pessoas acaba não verificando as fontes das notícias, e quando o fazem, não buscam saber sobre a veracidade dos fatos ali mencionados nem como ou quais trâmites ocorrerão em seguida, com isso, muitos preguiçosos formam opiniões embasadas em mentiras e falácias, sempre defendendo tais ideais com bastante ódio.

A contemporânea difusão de notícias, especialmente quando envolve direito, se assemelha bastante àquela brincadeira 'telefone sem fio', porém, ao invés da distorção da verdade causar risada, acaba por causar violência, verbais e físicas, ovacionando a ignorância, inimiga capital de todos os fundamentos e objetivos de nossa República.

E dessa repulsiva ignorância repleta de ódio surgiram diversas frases de ódio preocupantes, dentre elas as icônicas "nunca vi os Direitos Humanos indo na casa do policial morto!", "tinham que acabar com esse negócio de Direitos Humanos" e semelhantes.

O mais cômico (e trágico) é que esses indivíduos ignorantes, acreditando direcionar esse ódio àqueles que geram a famosa 'sensação de impunidade', contraditoriamente atacam os Direitos Humanos, requerendo a completa extinção do conjunto normativo pertinente, numa lógica um tanto ilógica.

Percebe-se muita revolta com o crescente índice de criminalidade do país, mas propõe-se extinção dos "Direitos Humanos", porém, em nenhum momento há sequer menção à, por exemplo, o famoso Pacto São José da Costa Rica, ou quaisquer outros tratados sobre direitos humanos.

Indo ao ponto, a frase "nunca vi Direitos Humanos indo na casa do policial morto!" e semelhantes têm a mesma absurdez de ser dizer "nunca vi Constituição Federal indo na casa do policial morto!" (sim, esse é um dos modos que colocam os direitos humanos). Ora, um conjunto normativo, por si só, nunca irá na casa de ninguém, pois não possui meio de locomoção próprio (particularmente acho que jamais verei um exemplar da Constituição Federal dirigindo de automóvel).

Entendo ser difícil compreender (devido ao caos generalizado que se multiplica todo o dia), mas grupos políticos brasileiros não devem representar legislações como um todo, especialmente as internacionais.

Direitos humanos não são de esquerda, direita, cima ou baixo, e apesar da existência de ONGs e Comissões que levam "direitos humanos" em suas nomenclaturas, muitas delas mancham todos os ideais daquele conjunto normativo.

Entendam, direitos humanos são regras apolíticas, logo, PARA TODOS, porém, muitos órgãos com vinculação política querem restringir a aplicação deste conjunto normativo para algum benefício próprio.

AH, MAS BANDIDO TEM MAIS É QUE SE FU*** MESMO! EU SOU UM CIDADÃO DE BEM, POR QUE PRECISARIA DISSO? ACABA COM ESSE 'CONJUNTINHO' NORMATIVO LOGO!

As pessoas em geral costumam aplaudir as injustiças, desde que sejam contra "os inimigos", mas revoltam-se quando as mesmas injustiças são aplicadas contra alguém que lhe despertam empatia. Esquecem-se de que para tornar o herói em vilão, bastam algumas palavras e divulgação. Hoje, apenas "o inimigo público" está sendo afetado, mas e depois?

É ingenuidade acreditar cegamente no "quem não deve, não teme" ou que, como é um "cidadão de bem", jamais precisará se preocupar com a justiça. A mídia não divulga como deveria, mas uma quantidade absurda de inocentes já sofreram as consequências das justiças por conta de garantias e direitos que não foram respeitados, resultado de arbítrios que tantos hoje aplaudem e exigem.

Mas, voltando aos direitos humanos, exigir a extinção deste conjunto normativo é uma burrice sem precedentes. Está ruim tendo direitos humanos "prus" bandidos? Bom, sem direitos humanos, o caos seria generalizado.

Explico, vamos supor que o princípio constitucional geral se alinhasse aos pensamentos dos ignorantes, e que quaisquer palavras sobre direitos humanos fosse imediatamente extirpada de nossa legislação vigente.

Retirado somente o primeiro artigo de um dos mais famosos (senão o mais famoso) tratados sobre direitos humanos, a Convenção Americana de Direitos Humanos, de 1969, também conhecida o Pacto São José da Costa Rica, e por conseguinte, quaisquer artigos que caminhassem no mesmo sentido, poderíamos esquecer qualquer justiça, simples assim.

Afinal, o artigo 1º da Convenção fala, basicamente, que os Estados-membros (do tratado internacional) têm a obrigação de respeitar direitos sem qualquer discriminação.

Para se ter uma noção de como seria o país totalmente ausente de direitos humanos, basta ler cada artigo da convenção mencionada e imaginar a vida sem aquele direito. Logo no 3º, o caos seria patente, afinal, é o artigo que propõe o direito à vida, e um estado que não garantisse ou apenas garantisse vida apenas àqueles que lhe são de interesse não é muito justa.

Se o ódio se direciona aos grupos políticos que fazem tantas burradas e nos custam tão caro, tanto no lado financeiro quanto na qualidade de vida, sem os direitos humanos, não existiriam limites para as atrocidades dos mesmos, e coisas que hoje consideramos tão normais (como, por exemplo, não ser agredido por mera liberalidade do agente estatal, e se acontecer, é possível procurar justiça) seriam impensáveis.

Em resumo, basicamente a vida em sociedade seria impossível.

São direitos humanos que garantem ao cidadão ter sua propriedade, sua liberdade (de corpo e de expressão), e, entre tantos outros, o de buscar justiça. É o que garante que o falecido policial possa ter sua dignidade reconhecida e possibilita a busca por justiça, apesar de que dinheiro algum indeniza a retirada de uma vida.

É claro que os problemas do país (e do mundo em geral) que causam tanta violência são resultados de uma imensa bola de neve de causas e efeitos, principalmente péssimas escolha e administração, mas este assunto é muito longo, e ficará para outra oportunidade.

Então, antes de propagar ódio ao que lhe garante tantos direitos fundamentais e/ou exigir a imbecilidade de extinguí-los, informe-se e compreenda que são justamente os desrespeitos aos mesmos direitos que trazem tantas tristezas, tantas mortes, tantas injustiças, tanta sensação de e própria impunidade.