O Direito como o vemos hoje está com os dias contados
- Criado em 30/09/2019 Por LinkLei
Profissionais do Direito devem deixar de lado a ideia de que devem saber tudo e passar a escutar seus clientes.
As pessoas e as empresas buscam serviços jurídicos para auxiliá-las na resolução de problemas que elas, quer seja por uma exigência legal ou pela impossibilidade de conseguir visualizar uma saída, se veem impedidas de resolver sozinhas.
Acontece que, na maioria dos casos, o caos já pré-estabelecido pela própria existência do problema em si, não parece melhorar. Apesar da simpatia e esforços dos advogados nas reuniões para elaborar a melhor estratégia para o cliente, muitas vezes a burocracia do sistema jurídico, aliada ao linguajar complicado dos profissionais envolvidos, impede que o cliente se sinta confortável e seguro sobre o que acontecerá consigo ou com sua empresa.
As dificuldades enfrentadas pelos clientes na interface com o mundo jurídico, acreditem, não são exclusivas deles. Os profissionais do Direito também enfrentam muitos obstáculos (ou seriam desafios, que deixam a vida mais emocionante) no dia a dia jurídico, gerados por decisões diferentes, vindas de um mesmo órgão jurisdicional, pelo descompasso de informações ou pela própria falta de soluções tecnológicas eficazes que atendam às suas necessidades.
Este cenário alarmante, entretanto, parece estar mudando. A onda de inovação (finalmente) atingiu o mundo do direito através do Legal Design.
Segundo Margaret Hagan, em seu e-book Law by Design, o Legal Design consistiria em uma visão do Direito desde a perspectiva do design, o qual tem como fundamento proporcionar aos usuários de um produto ou serviço uma experiência envolvente, que melhore significativamente a sua interação.
Este conceito, quando aplicado na prática, conforme explicaremos a seguir, propõe a criação de novos modelos de negócios jurídicos, oriundos de uma reflexão aprofundada das necessidades dos usuários do Direito (clientes e profissionais).
A inovação decorrente da aplicação do Legal Design pode ser vista em atividades mais simples, como no uso de um linguajar mais acessível entre os profissionais do Direito e os seus clientes, no uso de apresentações mais lúdicas de estratégias de casos ou ainda em soluções mais complexas, por meio das lawtechs, que são empresas de tecnologia voltadas para soluções destinadas ao mundo jurídico.
Quer seja na qualidade de clientes ou de profissionais do Direito, é imprescindível que todos estejam a par das mudanças que estão acontecendo no mundo jurídico, porque mais cedo ou mais tarde, elas impactarão o dia a dia das pessoas.
Afinal, tanto na qualidade de clientes quanto de profissionais do Direito, todos são também responsáveis pela mudança na forma como pensamos o Direito. De um lado as pessoas, enquanto clientes, podem (e devem) apontar o que os insatisfaz na prestação dos serviços jurídicos, ainda que não saibam como aquele problema pode ser resolvido.
Por outro lado, os profissionais do Direito devem deixar de lado a ideia de que devem saber tudo e passar a escutar seus clientes, para entender quais são as suas reais necessidades. A partir daí, juristas e clientes podem pensar em conjunto algumas alternativas que se mostrem viáveis à solução destas questões.
As soluções propostas devem ser testadas e, quando não se mostrarem úteis, adequadas ou vantajosas, podem ser descartadas. Este processo cíclico deve ser rápido e, preferencialmente, prototipado de uma forma barata e ágil. O que se pretende aqui é que o brainstorming de ideias seja constante e gere muitos testes e validações de modo que, ao final deste processo, chegaremos a algumas soluções que, de modo eficaz e viável, melhoram a rotina dos clientes e dos profissionais do direito.
O desafio é grande, para desconstruir a forma engessada e burocrática como o Direito se relaciona com seus usuários, mas é imprescindível que possamos dar novos passos rumo à modernização do mundo jurídico.
LETÍCIA FONTES LAGE – Advogada da área contratual do escritório Finocchio & Ustra Sociedade de Advogados