‘Diretores jurídicos brasileiros deixaram de ser carimbadores de papel’
- Criado em 01/08/2019 Por LinkLei
Conclusão é do advogado Dennis Del Cioppo; estudo mostra que
profissionais também atuam internacionalmente
Na maré contrária da influência de empresas brasileiras no cenário internacional, diretores jurídicos brasileiros vêm desempenhando funções cada vez mais ativas em suas organizações. Desde o início do ano, 34% desses profissionais também são responsáveis por comandar a área jurídica de suas empresas na América Latina.
Se somarmos a esse número outras localidades que também falam o espanhol e o português, como Espanha e Portugal, o percentual de diretores jurídicos internacionais brasileiros sobe para 45%. A conclusão é da pesquisa empírica Brazil Legal Benchmarking Survey 2019, organizada pela Laurence Simons, empresa de recrutamento na área do Direito.
A empresa entrevistou 287 diretores jurídicos que atuam no Brasil. O objetivo da pesquisa foi fazer o perfil do head jurídico brasileiro. Uma das principais conclusões da pesquisa foi a importância que os advogados no Brasil têm no contexto internacional para suas empresas.
“Uma das conclusões que chegamos foi que o executivo da área jurídica está com uma posição muito estratégica. Deixaram de ser carimbadores de papel, que somente falavam ‘sim ou não’ para as coisas, e estão muito mais envolvidos na estratégia do negócio”, afirma Dennis Del Cioppo, sócio da Laurence Simons.
Mais de 50% dos respondentes da pesquisa pertencem ao alto escalão dos profissionais de setores jurídicos, ou seja, ocupam cargos como head of legal, legal manager, senior lawyer e general counsel. Quase 60% dos participantes do estudo tinham mais de 15 anos de experiência no mercado.
A pesquisa mostra que 70% dos setores jurídicos terão, em 2019, o mesmo orçamento de 2018 ou um aumento do investimento na área. Enquanto isso, 30% dos profissionais responderam que o setor terá diminuição de investimento por parte da empresa.
Esse panorama de internacionalização e visão de business que o advogado em empresa precisa ter reflete, segundo Del Cioppo, na preparação e formação de carreira da profissão.
“Concluímos que a língua espanhola atualmente é tão necessária quanto falar inglês. Quem estava acostumado a só trabalhar com o Brasil, passa a atuar com México, Argentina, Colômbia, Peru, Panamá. O Brasil assume a liderança no jurídico para a região”, afirma o advogado.
Del Cioppo também destaca a importância do setor jurídico dentro do orçamento geral das grandes empresas. A maior parte dos setores jurídicos custa até 0,20% do orçamento total da empresa.
“Esses números são expressivos. Se usarmos como exemplo uma Unilever ou Johnson & Johnson, o faturamento total dessas empresas é na casa de bilhão. Quem tem o departamento jurídico como somente um custo, não como investimento, está no caminho errado”, diz o advogado.
Para ele, os setores jurídicos são capazes de gerar riqueza e lucro, revertendo decisões tributárias de grande valor, por exemplo, ou otimizando os custos da empresa. “O profissional precisa ter contato com números, ler balanços de empresas, para ser rápido em uma negociação”, diz Del Cioppo.
A pesquisa também revela que a área de resolução de disputa é a mais terceirizada pelos jurídicos. Apenas 16% dos diretores jurídicos afirmam que não terceirizam as atividades nesse setor.
A área de antitruste é a segunda mais terceirizada pelos diretores jurídicos. Aproximadamente 77% dos advogados de empresas deixam esses casos para escritórios especializados. Outro setor que está na lista dos mais terceirizados é o de insolvência.
O estudo também indica que as terceirizações não são feitas necessariamente como uma forma de redução de custo. Somente 13% dos respondentes afirmam que o aumento da terceirização tem como finalidade a diminuição de gastos. “Essas áreas normalmente são terceirizadas por demandarem uma especialização maior e mais tempo para os casos”, explica Del Cioppo.
Porcentagem de terceirização
Tecnologia e Carreira
Outra tema discutido no estudo foi o uso de tecnologias, como a inteligência artificial, dentro dos setores jurídicos. Mais de 60% dos profissionais afirmam que o setor terá um aumento no investimento em inteligência artificial nos próximos 12 meses.
O uso da tecnologia, de acordo com a pesquisa, será mais utilizado com litígios e contratos. Del Cioppo explica que hoje já existem ferramentas que monitoram processos envolvendo a empresa.
Investimentos em inteligência artificial no setor jurídico
Além disso, essas tecnologias permitem saber em qual vara na Justiça o processo está, com qual juiz será julgado e qual o melhor argumento jurídico a ser usado com base no histórico de decisões do magistrado.
Apesar da tendência de aumento do uso da tecnologia, mais de 60% dos diretores jurídicos afirmam que mesmo sua forte utilização não resultará na substituição de profissionais dentro da equipe.
Sobre aspectos da carreira do profissional do setor jurídico, a pesquisa identificou que quase 60% dos advogados receberam aumento salarial nos últimos seis meses. A maior parte deles se sente confortável no comando do setor jurídico e só mudaria de emprego caso a nova proposta permitisse uma progressão na carreira.
O estudo também fez um panorama da rotina de trabalho desses profissionais. A maior parte dos entrevistados (57%) trabalha de 46 a 55 horas semanais. A média de remuneração para o cargo de general counsel fica entre R$ 35 mil a R$ 40 mil, dependendo do porte da empresa.
Salários no setor jurídico
Um advogado sênior tem média salarial entre R$ 8 mil a quase R$ 14 mil. O cargo de legal director tem vencimento médio de R$ 25 mil a R$ 45 mil, dependendo do tamanho da empresa.
Apesar do panorama otimista da profissão, a maior parte das equipes jurídicas ainda tem poucos profissionais. De acordo com o estudo, a maioria dos diretores possui equipes com até cinco advogados.
ALEXANDRE LEORATTI – Repórter
Anônimo