A vantagem tecnológica dos escritórios de advocacia menores
- Criado em 22/11/2018 Por LinkLei
Um amigo meu tem um escritório pequeno de advocacia. Ele está num momento difícil, em que as coisas não andam na velocidade que ele gostaria e ele sempre me fala coisas do tipo:
“Se eu tivesse mais estrutura… Se eu tivesse mais clientes… Se eu tivesse mais funcionários…”. Trabalhando com engenharia e desenvolvendo softwares para advogados, acabei ganhando uma visão de um ângulo um pouco diferente sobre esse assunto. Então neste post vou explicar porque ser pequeno e ter “pouca estrutura” não deve ser motivo de frustração, mas representa uma enorme vantagem estratégica que você pode aproveitar agora.
Nas próximas linhas, vou mostrar alguns conceitos sobre inovação e tecnologia. Você vai terminar a leitura com outra visão sobre seu escritório seja ele pequeno, médio ou grande, além de enxergar mais oportunidades. Você vai descobrir os diferentes tipos de pessoas quanto à inovação, quais são os melhores clientes para um escritório como o seu e onde você se encaixa nisso tudo. Também vou te dar dicas práticas para alavancar seu escritório, porque só ficar falando que “tem que inovar, tem que inovar” é chover no molhado. hehe
Escritório pequeno – “Faz o cruzamento e corre pra cabecear”
Sei que ter um escritório pequeno de advocacia é algo muito desafiador. Algumas pessoas nem se enxergam como empresárias, pra não ter que lembrar de tudo o que envolve gerenciar um escritório. Mas, apesar de muitas vezes não existir uma salinha ou mesmo o cargo do financeiro, por exemplo, as contas devem ser pagas, os planejamentos devem ser feitos, o caixa tem que estar em dia e… “Opa! Queimou aquela lâmpada, vou ter que vir no fim de semana consertar”.
O advogado é sim um empresário e acaba realizando as tarefas que seriam de vários departamentos. Não é nada fácil. Então fica aquela sensação de que o que falta mesmo é estrutura! Existe aquela ideia de que o escritório precisa mesmo é crescer, crescer! Ter mais salas, ter mais gente e mais departamentos! “Só assim pra ter sucesso”.
Mas essa noção já está ficando pra trás… Crescer um negócio já não significa a mesma coisa que antigamente. Hoje estamos vendo o surgimento de escritórios pequenos, diferenciados, altamente especializados num nicho e super lucrativos. Alguns até com home office (advogado trabalhando em casa de pijama e gravata! Hehe!). Muitos deles surgiram porque eles tinham pouca estrutura. Talvez não fossem viáveis como escritórios grandes, com vários departamentos e lotados de advogados.
Estrutura é essa palavra coringa que engloba um monte de coisa, mas que também esconde um monte de problemas para o escritório! Mas você está dizendo que ter um escritório grande é ruim? Nem pensar! O escritório grande tem várias vantagens! Ele tem toda a experiência acumulada, tem a marca que desenvolveu ao longo dos anos e que tem um valor enorme, tem parceiros, tem muitos clientes, tem diversidade de serviços que traz mais segurança para o negócio, tem uma grande força de trabalho, etc.
São inúmeras vantagens e que levaram anos para serem desenvolvidas, mas uma coisa fundamental que os escritórios grandes têm mais que os pequenos é a inércia.
Obs: Se você tem um escritório grande, fique de olho. Mais pra frente você vai ver vários pontos que podem ajudar muito na sua estratégia.
Inércia – “É Lei, mas muito advogado por aí não entende”
Vamos emprestar aqui esse conceito da física (Primeira Lei de Newton) para você entender como os escritórios pequenos são mais ágeis e devem usar isto ao seu favor. Eles podem mudar de direção mais rapidamente, adotar novas tecnologias, mudar de mercado, contornar obstáculos.
Inércia na física é uma medida da dificuldade que um corpo tem para mudar seu estado de movimento. É assim… se ele está parado, quanto mais inércia, mais força você vai ter que fazer para movê-lo. Se ele está se movendo, quanto maior a inércia, mais difícil é parar (como o motorista daquele caminhão ali descobriu) ou mudar o movimento de direção.
Pro seu escritório, também podemos pensar nesse conceito de inércia. Toda vez que você contrata um funcionário, faz uma parceria, compra mais ativos, você aumenta a inércia do seu escritório. Isso tudo é necessário e natural para o seu negócio, mas tenha em mente: seu escritório nunca vai ser tão ágil quanto ele é hoje.
Num mercado que está mudando rapidamente, com milhões de advogados e com a tecnologia apresentando novas oportunidades a cada dia, ter uma inércia baixa representa uma vantagem estratégica enorme! Vou explicar. A vantagem pode ser em relação ao posicionamento no mercado: Você era da área trabalhista e agora ficou bem ruim de trabalhar com isso na sua região? Show! Se sua inércia for baixa, você vai mudar mais facilmente para outra área do que para um escritório grande. Você não vai ter todos os funcionários, estrutura e investimento que o escritório grande fez desenvolvendo aquela área.
Ou pode ser também uma vantagem tecnológica. Na velocidade que o seu escritório inova. Outro dia eu estava apresentando para outro amigo advogado um programa novo que resolvia vários problemas dele. Depois de um tempo ele me falou: “esse programa é excelente, mas acho que vou ficar com o antigo mesmo, porque já estou acostumado com os botões e a forma de fazer as coisas”.
“Já estou acostumado” é uma declaração de que a inércia está alta. Ele já está em movimento, a forma que ele está fazendo já está “dando certo”, mas pra mudar de direção a coisa não é tão fácil. Isso fecha as portas para novas oportunidades e, com o tempo e sem cuidado, pode transformar o escritório em um dinossauro.
A gente é assim mesmo. Todos nós temos uma certa aversão a mudanças. Em algumas áreas da vida mais que em outras e isso também varia de pessoa pra pessoa.
Você se considera uma pessoa que aceita mudanças rapidamente?
“Só se for pra melhor”, muita gente responde. Mas as pessoas têm diferentes velocidades de perceber que algo é melhor, de aceitar isso e depois de adotar. Vamos ver? Eu adoro inovação e hoje trabalho com tecnologia, estou sempre ligado nas tendências e tal… Mas deixa eu contar uma historinha que aconteceu comigo pra você ver que a nossa capacidade de aceitar coisas novas varia muito.
O primeiro celular com câmera que vi na minha frente foi minha cunhada que comprou. Ele era bem caro. A câmera era bem ruinzinha e ainda “derretia” a bateria do celular (em vez de durar uma semana, durava 2 dias). Então, pra simplificar as coisas e me confortar no meu pão-durismo da época, eu pensei… “Ah, celular com câmera… Quem vai querer uma coisa dessas!? Se eu quiser uma câmera eu compro. Celular é pra fazer ligações!“. Que bola fora, hein?
Hoje uso todas as funções possíveis que eu tenho no meu celular e ainda tiro centenas de fotos dos meus sobrinhos. Eu viajo e ele é meu escritório, banco, compras… Até usei ele pra escrever um pedaço deste post que você está lendo.
Curva de adoção tecnológica – Mas como é que as pessoas reagem a inovações?
Saber disso vai mudar a visão sobre os seus clientes e te mostrar como conquistar cada tipo de pessoa. Um Sociólogo e Cientista das Comunicações americano chamado Everett Rogers fez uma metanálise gigante e estudou a fundo os fatores que influenciam na difusão das inovações dentro de um grupo. Das várias conclusões que ele tirou, uma importante é que dá pra caracterizar as pessoas quanto ao seu comportamento diante de inovações em 5 grupos. E chegou nessa curva, que é mais conhecida na engenharia.
Essa curva é chamada “Curva de difusão de inovações”, mas você também vai encontrar como “Curva de adoção tecnológica”. Essa curva explica muita coisa e tem umas implicações importantes pro seu escritório que vou mostrar! Ela mostra qual a quantidade de pessoas que adotam uma inovação ao longo do tempo.
Obs: Você já deve ter visto outras distribuições assim, pois essas curvas em “formato de sino”, como a curva normal (gaussiana) são comuns em outras áreas da ciência.
Inovação, inovação… Mas afinal, o que é inovação?
Algumas pessoas olham para uma técnica nova que foi trazida para a advocacia e dizem algo do tipo: “Isso não é inovação, meu avô já fazia isso lá na firma dele!”. Por isso, antes de continuarmos, é importante a gente entender que inovação não é apenas uma coisa nova que nunca foi vista antes, nem precisa ser algo que acabou de sair dos laboratórios ou pesquisas acadêmicas de ponta.
Se um produto (ou mesmo uma técnica ou método novo) já era usado em outra área, mas agora foi adaptado e passou a ser usado na advocacia, então é uma inovação na advocacia. Inovação pode ser algo que seu avô já fazia a muitos anos lá onde ele trabalhava. Você se inspirou em uma prática japonesa de fabricação de carros e agora isso está sendo feito numa nova área? Então é uma inovação.
Agora que já sabemos o que é inovação e esse sentido mais amplo da palavra, eu pergunto: onde você está nessa curva de inovação?
Innovators – Inovadores
As primeiras pessoas a adotarem uma inovação são os innovators. Eles são uma parcela pequena da sociedade (2,5%) e em geral são pessoas mais jovens, com maior poder aquisitivo e menos avessas ao risco.
Elas estão dispostas a investir em algo super novo e sabem que pode dar errado. Por isso são também tolerantes a falhas e torcem muito para essa inovação dar certo. Elas têm um capital para investimentos de alto risco que consideram “fundo perdido”, mas se a coisa vingar, eles vão ter a vantagem de terem sido os primeiros.
“Fato interessante: Em 2010 um programador comprou duas pizzas por 10 mil Bitcoins. Hoje 10 mil bitcoins equivalem a praticamente 38,1 milhões de dólares.”
Early Adopters – Pioneiros / Adeptos precoces / Rápidos de inovação / Formadores de opinião
Não achei uma tradução 100% boa pro termo, mas os Early Adopters também são jovens, mas analisam um pouco mais a fundo esse produto ou serviço. Eles são bem tolerantes a falhas e estão dispostos a arriscar um pouco do seu dinheiro para usar uma inovação. Os Early Adopters geralmente são formadores de opinião no meio onde estão e precisam de um pouco mais de certeza sobre o que estão usando até para poder explicar no seu círculo de influência.
Early Majority – Primeira Maioria
Essa turma é a que está mais em contato com os Early adopters e vão sendo influenciados diretamente por eles. Eles são pragmáticos e vêem os Early adopters usando algo novo e acham estranho, curioso, mas aos poucos vão se acostumando com aquilo e quando o preço fica mais acessível começam a pensar em comprar.
Late Majority – Maioria tardia
Eles abordam as novidades com ceticismo e só adotam as inovações depois que a maioria da sociedade já adotou. Têm baixa liquidez financeira e status social abaixo da média, além de uma posição de influência mais baixa dentro do seu meio social.
Laggards – Retardatários
São os últimos a adotarem uma inovação. Têm pouca influência na formação de opinião e geralmente são avessos a agentes de mudança. Eles são focados em tradições e têm baixa liquidez financeira, menor status social e são os que têm em geral mais idade. Estão em contato com um círculo menor de pessoas, como a família e os amigos próximos.
À medida que você vai indo para o final da curva, você vai ter pessoas em geral mais tradicionais, com mais idade e com menos liquidez de capital. São pessoas que precisam de bastante prova social e só usam algo novo depois que já está bem disseminado. Essas pessoas também são mais críticas dos serviços e produtos, são mais sensíveis ao preço e toleram menos falhas.
Veja que naquele caso do celular com câmera eu estava mais pro final da curva do que para o começo! Hoje, com independência financeira e trabalhando com tecnologia, eu já me posiciono em outros lugares da curva, dependendo do assunto. Ah, essas características são generalizações! É claro que tem várias exceções, mas podemos usar esses conceitos para tirar conclusões importantes para seu negócio.
Primeira conclusão – Se você está iniciando algo novo, se apresente para os innovators e early adopters
Quando lançamos o Cálculo Jurídico, a proposta era fazer um programa de cálculos previdenciários simples. Que fosse intuitivo a ponto de até um iniciante usar normalmente. Alguns conhecidos que trabalhavam a mais tempo com previdenciário disseram pra gente que seria “impossível” fazer algo assim. Que pra fazer esses cálculos a pessoa precisa de muitos anos de experiência na área.
Em pouco tempo os Innovators começaram a usar e a gostar muito. Tendo resultados. Logo depois, os Early adopters vieram e começaram a usar também. Eles já faziam mais perguntas e queriam saber o que estava escondido por trás de um cálculo mais automático. Mas as respostas sempre geravam uma surpresa positiva e eles ficam muito contentes.
Esses pioneiros (principalmente os Early adopters) dão dicas para melhorarmos, falam do programa para os colegas e realmente são muito interessados. Eles são clientes ideais para quem está começando. Mas para isso é importante você chegar até eles! Muitos advogados têm a crença de que é impossível chegar até os clientes. Que é só por indicação e que assim vai demorar um tempão para fazer o escritório crescer. Realmente, pode demorar uma eternidade para acontecer, mas só se você focar no tipo de cliente errado para o seu negócio.
Sei que em parte disso é por causa do código de ética e porque tem várias formas de exposição que não são permitidas para o advogado. Mas isso não deve ser usado como desculpa. Os clientes que mais vão se identificar com a sua proposta existem e estão por aí te procurando!
Por isso é importante você ter um site ou uma página nas redes sociais em que você deixa bem claro qual é a proposta da sua empresa. Não tem problema se posicionar fortemente num nicho. Se você tiver um site bonito, simples, sem frescuras e que passe a sua mensagem de forma clara, essa mensagem vai ficar 24h no ar para os Innovators e os Early adopters te encontrarem. Depois a sua proposta vai se espalhar naturalmente para o resto do seu público alvo, como vou mostrar mais pra frente.
Outra conclusão – Inovações saem perdendo em escritórios maiores
O Everett Rogers foi mais a fundo no estudo dele sobre a difusão dentro de organizações, pois elas são bem mais complexas de analisar que os indivíduos, mas olhando pra aquela curva ali em cima, podemos fazer umas generalizações interessantes. Quanto maior for o escritório, quanto mais pessoas que tomam decisões tiver, mais chances da distribuição das pessoas em relação a uma determinada inovação se parecer com a curva em formato de sino ali em cima.
Isso significa que um escritório maior, vai olhar para uma inovação que um Early Adopter trouxe e pode até achar boa… Mas se colocarem em votação o resultado vai ser mais ou menos assim. Pegando os números daquela curva ali em cima:
Inovação na fase dos early adopters teria apenas os innovators e early adopters a favor da sua adoção
Isso significa que o Early Adopter pode juntar muitas informações para embasar a sua ideia, pode ter os Innovators ao seu lado, mas ele ainda vai precisar de um tempo pra ideia “maturar”. Senão vai perder democraticamente por uns 84% a 16%. Isso também é mais um indicativo daquela inércia que comentei.
Num escritório pequeno, se tiver duas pessoas, talvez ambas tenham características mais inovadoras e isso vai resultar em um escritório com característica inovadora. Em um escritório grande isto é mais difícil. E considerando que a inércia do escritório pequeno para adotar algo novo é menor, a chance do escritório não só decidir, como implementar a mudança rapidamente, é muito maior! Isso deixa muito clara a vantagem dos escritórios menores tanto para adaptações ao mercado (market fit), quanto às novas tecnologias.
Se o seu escritório está nesta condição, saiba que você está na frente ao testar novas ferramentas de gestão, novos sistemas online, novas técnicas de produtividade. E olha.. Elas estão vindo com força! As startups na área do direito e lawtechs estão surgindo aos montes!
Então para que seu escritório seja um Davi perto dos Golias que tem por aí, pra que ele seja pequeno, ágil, eficiente e muito lucrativo, você deve ficar ligado nos blogs de tecnologia como este da Aurum, ficar esperto para as novas tendências e analisar rapidamente se podem te ajudar. Enfim, se você está lendo isso, provavelmente já está na frente da maioria dos advogados!
A curva em S da inovação
Lembra que falei que você deveria se apresentar para os innovators e early adopters!? Estar na internet, com conteúdo, dizendo para o quê você veio e qual sua proposta? Então, se você achar essas pessoas e vender seus serviços para elas, você vai se surpreender com o que vem depois!
Vou mostrar outra forma de ver a curva de adoção tecnológica ali de cima. Agora vamos olhar para ela de forma cumulativa, vendo o percentual da população que já adotou a tecnologia. Ela mostra como a inovação vai se espalhando percentualmente na sociedade, inicialmente com 0% e depois chegando num momento em que 100% da população adotou aquela inovação. Veja que ela tem um formato interessante de S (curva amarela). A curva que está atrás (azul) é no formato anterior que você já conhece.
A adoção de uma tecnologia por % de uma população ao longo do tempo
Então a inovação começa se espalhando devagar, ali com os innovators, depois tem uma inflexão e começa a acelerar o ritmo de adoção com os early adopters e depois ela explode! Boom! De repente a taxa de adesão à tecnologia começa a crescer muito forte.
Veja que várias tecnologias que já estão totalmente disseminadas nas nossas vidas hoje em dia tiveram uma adesão na sociedade seguindo essa curva em S. Mas alguém pode me dizer: “Espera aí! Tem umas curvas ali que não parecem esse S que você falou”.
Claro que vários fatores influenciam a adesão de cada uma das tecnologias, como o telefone e eletricidade que tiveram uma queda no mesmo período provavelmente por causa da crise de 29, depois de 39 a 45 tivemos a Segunda Guerra e etc. Em outras o S é mais magrinho, pois a tecnologia se espalhou mais rápido. Mas em geral elas seguem bem a ideia da curva.
Então perceba que logo depois que você conseguiu adesão dos innovators e early adopters, você chega a uma certa quantidade de pessoas com aquela inovação que o resto do público alvo vai se sentindo impelido por prova social a adotar. Você forma uma “massa crítica”.
Massa crítica na ciência é a menor quantidade de um elemento radioativo que você precisa para ter uma reação nuclear em cadeia autossustentável (boom!). Então se você adotar uma estratégia de posicionamento no mercado e conseguir passar sua mensagem para um certo número de pessoas que vão se identificar, depois de um tempo você vai ter uma massa crítica e vai começar a ter muitos clientes!
A outra vantagem é que é muito legal ter early adopters por perto, pois eles são mais tolerantes a problemas que seu serviço possa ter no começo e estão torcendo pra coisa dar certo e vão te dar feedbacks muito valiosos para você deixar seu serviço adequado pro resto do mercado.
Futurologia – O que está por vir!?
Imagine que você volta no tempo uns anos… Não precisa voltar muito, uns 10 anos. Nisso você encontra com seu “eu” do passado. Então você começa a contar fatos normais do seu dia a dia em 2017 e fala que você tem um aparelhinho no bolso em que você diz pra onde quer ir e alguns minutos depois aparece um carro na sua frente pra te levar.
Quando você chega no seu destino você só desce do carro e nem precisa tirar a carteira do bolso, pois o serviço já foi debitado do seu cartão… Quando você explicar isso para seu “eu do passado” ele provavelmente vai ficar muito assustado. Primeiro porque não é sempre que seu eu do futuro vem te contar qualquer coisa, hehe, segundo porque é impressionante mesmo essa revolução que já está no nosso dia a dia com esses apps de transporte.
Dessa historinha tem coisas interessantes pra gente notar (fora a viagem no tempo). Nós não somos muito bons em prever o avanço das tecnologias e inovações. Muitas vezes a tecnologia avança de forma exponencial. Ela começa de forma sutil, vai se espalhando entre os innovators e early adopterse, de repente está em toda a parte como se fosse normal todo mundo fazer aquilo.
Ninguém chama um Uber e quando o carro aparece com o motorista na sua frente fica gritando: “Funciona! funciona!”, feito um cientista maluco. A gente age naturalmente, como se sempre tivesse sido assim.
Mas e para a advocacia? Quais são as tendências que já estão se concretizando e que podem estar por toda a parte daqui a pouco?
Blockchain – Contratos inteligentes
Essa dica é bem quente e quase nenhum advogado sabe. Fique bem de olho nisso, pois é algo que está dando os primeiros passos, mas tem grandes chances de revolucionar várias áreas do direito. Você já ouviu falar no Bitcoin ou outras moedas virtuais?
O Bitcoin é uma moeda revolucionária, sem dúvida, e é por isso que ela está aparecendo cada vez mais na mídia. Mas a tecnologia que está por trás do bitcoin, que viabilizou ele, realmente impressiona.
Essa tecnologia se chama Blockchain, você não precisa decorar, mas saiba que usando muita criptografia e programação, os seres humanos descobriram uma forma descentralizada (sem um órgão central, como um governo ou um banco) de aferir validade e confiança a um título.
Todas as transações ficam registradas de forma anônima na ordem correta num registro público e é o próprio sistema que valida as transações, títulos e participantes. Esse título pode ser uma moeda como o bitcoin, mas também pode ser um contrato, um voto, uma dívida, uma identidade, ou qualquer coisa que você tem que transmitir de um lugar pro outro e atestar veracidade.
Isso tem implicações fortes no direito, pois essa mesma tecnologia pode ser usada para eliminar intermediários em aplicações de:
– Contratos inteligens, que se executam sozinhos.
– Contratos que “penhoram”, mantém sob custódia, bens das partes até que expirem, sem a necessidade de um intermediário.
– Invalidação de produtos tecnológicos ou eletrônicos automaticamente por inadimplência, falta de crédito ou quebra de contrato.
– Organizações autônomas descentralizadas (DAOs). Regem as interações dos membros automaticamente, podendo gerar votações, distribuições de títulos e fundos entre as partes automaticamente e sem necessidade de um terceiro de confiança.
– Conteúdos com direitos autorais que já cobram, repassam royalties aos autores e evitam cópias não autorizadas.
– Muito mais…
Essas são só algumas das várias tendências que podem mudar a cara do direito nos próximos anos. Sei que quando falamos em tecnologia e direito alguns imaginam um Drone saindo com um monte de documentos do tribunal, para substituir o estagiário, hehe! Mas se tem alguma que não citei e que você gostaria de lembrar, deixe um comentário neste post que vou adorar conversar com você a respeito.
Apps e sistemas Especializados
Num sistema de gestão online como o Astrea, feito especificamente para advogados, você tem um time de programadores talentosos trabalhando junto aos advogados para criar um programa totalmente conectado, com abordagem moderna e simples de usar.
É uma aplicação que facilita muito o trabalho no seu dia a dia, você acessa de onde estiver e libera tempo para você organizar os outros setores que você atua na sua empresa: financeiro, marketing, planejamento, etc. E assim como no caso do Cálculo Jurídico, que é um programa para um nicho específico (Cálculos Previdenciários), em outras áreas do Direito também vão surgir programas e sistemas com uma proposta moderna e que facilitam a sua vida.
Essas aplicações web também têm uma séria vantagem:
1. As atualizações de código e de segurança são automáticas e para todos.
2. O programa evolui rapidamente, pois não é necessário baixar atualizações e nem usar um outro programa para instalar essas atualizações, você dá um F5 no seu navegador ou muda de tela e lá está a versão nova e melhorada do programa
3. Muitas atualizações e melhorias constantes, muitas vezes você só percebe depois que está utilizando há algum tempo.
Aqui no Brasil, nós ainda temos uma certa barreira quanto aos apps jurídicos vindos do exterior, pois a língua e a legislação são diferentes. Mas agora a quantidade de startups tecnológicas na área jurídica (chamadas lawtechs ou legaltechs) está crescendo de forma impressionante. Neste ponto, os escritórios menores e que estão ligados nas novidades na internet têm uma séria vantagem.
Home Office
Trabalhar em casa já é comum para muitas empresas de tecnologia, principalmente da área de software. Vários programadores em locais diferentes, muitas vezes em países diferentes, trabalhando no mesmo código ao mesmo tempo.
Se você está com problemas com dois advogados mexendo ao mesmo tempo no mesmo arquivo e gerando versões diferentes e depois você não sabe se a versão certa é a peticao_v_final.doc ou a peticao_v_final_2.doc, então lembre-se disso. Muitos dos apps que você usa foram desenvolvidos à distância de forma colaborativa. Com as ferramentas e processos certos é possível trabalhar assim com muita eficiência. Mesmo em trabalhos complexos.
O Home office tem inúmeras vantagens e pontos de atenção. Também tem bastante preconceito pra quebrar pra que vire uma realidade nos escritórios. Mas alguns inovadores já começaram a implementar nos seus escritórios. Daqui a pouco a curva inclina e vira algo banal.
Inteligência artificial
Isso aqui parece coisa de filme, mas os “robôs” estão chegando rapidamente para realizar várias tarefas na advocacia. Robô nada mais é que um programa de computador, muitas vezes usando algum tipo de inteligência artificial e que roda num servidor. É só um termo chique para um software que realiza o trabalho tipicamente realizado por pessoas.
Mas lembre que boa parte do trabalho na advocacia é lidar com informação. E isso os softwares fazem muito bem. Então as tarefas de processamento de texto, análise e seleção de documentos, busca de jurisprudência, análises de probabilidade de ganhar ações baseadas nos julgados de cada tribunal, etc, vão ser invadidas rapidamente pelos robôs.
Aqui é importante você ficar atento, pois parece algo remoto, mas a coisa pode virar e surgirem programas que fazem o trabalho de muitas pessoas. Muitas mesmo. Então, quem estiver ligado, com os documentos organizados e na nuvem e conseguir implantar algo assim antes, vai ter uma vantagem muito grande.
Computação em Nuvem
Computação em nuvem já está super disseminada e já usamos centenas de serviços na nuvem todos os dias. Eu quis listar ela aqui, pois ainda tem muitos advogados na dúvida se compram um servidor super caro, com toda uma infraestrutura, nobreaks, instalação, manutenção. Hoje você pode ter um servidor todo online com muita segurança. Lembre que não é porque a sala do servidor tem chave que o servidor é seguro!
Hoje tem mais recursos de segurança para serviços na nuvem do que para o seu servidor local, que pode ficar desatualizado e sofrer um ataque ou “sequestro” dentro do seu próprio escritório.
Obs: Ransomware ou sequestro/resgate. Um programa encripta os seus dados e você tem que pagar para conseguir a chave para decriptar. Muitas vezes um pendrive caído perto do escritório que alguém espetou no PC pra descobrir o dono já é suficiente para fazer o estrago. Bem comum no Brasil nos últimos tempos.
Se você tem aquele amigo da empresa de informática que insiste que o servidor local é mais seguro, converse bem com ele. Claro, indico sempre usar a autenticação em 2 fatores, usar senhas diferentes para os serviços online e os cuidados básicos de segurança na internet que quase ninguém segue. Mas hoje os serviços em nuvem estão bem avançados e ainda vão melhorar muito!
Órgãos públicos se modernizando
Vários tribunais e órgãos públicos estão fazendo um esforço de modernizar e tornar os serviços acessíveis pela internet.
Na área que temos mais contato, que é a previdenciária, o INSS inovou agora em fevereiro com o portal Meu INSS, em que é possível pegar os documentos do cliente, jogar no Cálculo Jurídico e já realizar todos os cálculos previdenciários super rápido. Eles também estão criando um “agência virtual”, que vai permitir eliminar as visitas às agências físicas e deixar o advogado ainda mais livre.
Pode parecer devagar ou mesmo que não está acontecendo. Mas tenha em mente que muitos advogados simplesmente saíram da área só por causa dos processos eletrônicos. Sempre que algum órgão se moderniza, muitas oportunidades surgem de você se destacar da concorrência. E isso vai vir com força para todas as áreas do direito. A tecnologia está cada vez mais acessível.
Correspondentes
Esse é outro serviço que está chegando forte na advocacia e que já está num nível muito interessante. Através da internet você contrata o correspondente, realiza o pagamento, avalia e faz com alguns cliques todo esse ciclo que há alguns anos era muito complicado.
1. Certamente uma grande vantagem estratégica para os escritórios que:
2. Oferecem serviços para o Brasil todo;
3. Trabalham com home office;
4. Que está crescendo, mas não quer contratar pessoas em todo o Brasil.
Conclusão – O que levar disso tudo!?
Agora que você descobriu esses conceitos sobre inovação e essas tendências, garanto que já está pensando em como aproveitar sua vantagem estratégica e lucrar muito mais com as mesmas horas de trabalho, não é?
Então vamos lembrar o que vimos!
– Ter pouca estrutura não é algo ruim e manter a inércia baixa é estratégico para a empresa;
– Se você tem um escritório pequeno, fique de olho nas tendências da tecnologia e das novas técnicas de gestão. Aproveite a sua baixa inércia para testar essas inovações mais rápido do que um escritório grande possa dizer “reunião de alinhamento”;
– As pessoas reagem muito diferente a novas tendências. Se você tem uma proposta diferente, mostre ela claramente para os innovators e early adopters. Eles vão te ajudar a melhorar seu negócioe ainda vão iniciar a divulgação para outros clientes;
– Ao invés de aumentar a estrutura e crescer o escritório, procure programas e técnicas para automatizar os processos, deixando o escritório eficiente e mantendo a agilidade;
– Use softwares de gestão, aplicativos online e serviços em nuvem que dispensem estrutura física, que estão sempre evoluindo e que permitam trabalhar de qualquer lugar.
Por: Mauricio Moraes
Fonte: https://www.ab2l.org.br/a-vantagem-tecnologica-dos-escritorios-de-advocacia-menores/