A transformação digital no universo jurídico não é uma tendência restrita a bancas de grande porte. Ainda que estas tenham melhores condições de se atualizarem rapidamente, todos os escritórios de advocacia terão de aderir ao Direito 4.0 mais cedo ou mais tarde. Essa mudança inevitável de paradigma não é novidade, foi assim com a informatização nos anos 1990. E foi assim com o peticionamento eletrônico há uma década. Porém agora são mais mudanças simultâneas e em menor tempo.

Em minhas interações com advogados através de mentorias, consultorias e palestras, comumente escuto o questionamento: “como faço para meu escritório iniciar a transformação digital?”. Minha resposta nessas circunstâncias costuma causar surpresa: “Seu escritório já iniciou a Transformação Digital, mas você não percebeu”.

Essa resposta passa longe de ser um sarcasmo. Ao contrário. É uma constatação factual. A grande maioria dos escritórios realmente já lança mão de alguma das práticas do Direito 4.0 ainda que não tenha consciência plena disso.

Essa situação ocorre por uma série de fatores, porém o mais sensível é o da desinformação sobre os novos conceitos que pairam sobre o Direito. Meu objetivo com artigos, palestras e outros tipos de conteúdo é justamente trazer informação útil e aplicável aos operadores do Direito.

Desmistificando os medos sobre da Transformação Digital e Direito 4.0

Eu costumo dizer que o Direito 4.0 é a Transformação Digital aplicada no mercado jurídico. Ela não está restrita a tecnologias, ainda que estas sejam fator preponderante. A inovação, a digitalização e a automação representam os pilares mais importantes desse movimento.

O Direito 4.0 é uma jornada inevitável para escritórios de todos os portes e áreas de atuação. Uma série de ocorrências e tendências internas e externas estão forçando essa transformação. Do lado de dentro do mercado podemos elencar a necessidade de otimizar a produtividade do escritório e a digitalização do judiciário. Como fatores externos macro, cito a exigência de recursos digitais por parte dos clientes e fornecedores, bem como o impulsionamento gerado pelo ecossistema de Lawtechs e Legaltechs.

Mas voltando à minha afirmação de que o seu escritório já iniciou a Transformação Digital, precisamos ser mais específicos sobre como isso aconteceu debaixo do seu nariz.

O que o seu escritório de advocacia já faz sobre Transformação Digital?

Digitalizar significa transferir para os meios digitais ao mesmo tempo em que adota uma nova mentalidade, novos processos e novos hábitos em relação aos controles. E principalmente, analisar os dados contidos nos controles a fim de obter informações relevantes e orientar as tomadas de decisão. Na esteira da digitalização e da automação vem a otimização de processos que leva ao aumento da produtividade.

Mas será que o seu escritório realmente já utiliza esses conceitos? Observe a lista a seguir e enumere qual dessas atividades você já pratica no seu cotidiano. Não se preocupe se as tarefas são feitas com ferramentas de alto ou baixo nível tecnológico. Nesse momento importa entender o que já é feito.

• Peticionamento eletrônico

• Consulta de processos

• Pesquisa jurídica

• Armazenamento de arquivos em nuvem

• Controle de produção jurídica

• Reuniões em videoconferência

• Comunicação interna por mensageria

• Atendimento ao cliente em canais digitais

Se o seu escritório já realiza ao menos duas dessas atividades, você já está usando recursos típicos da transformação digital. Porém, isso não significa que esteja utilizando todo o potencial dessas atividades.

Quase todos os escritórios de advocacia já utilizam algum recurso de digitalização, no entanto a maioria o faz de maneira precária, sem planejamento e sem mensuração de dados e sem aferição de resultados. Então a jornada ao Direito 4.0 não está propriamente em usar os recursos digitais, mas em aplica-los de forma consciente, planejada e eficaz.

Como continuar a jornada ao Direito 4.0 de forma planejada?

A dica mais valiosa já está na própria questão: planejar. Embora a transformação digital esteja em todos os assuntos profissionais atualmente, não significa que ela já venha com uma fórmula pronta. Embora existam ferramentas e softwares para todos os lados; não significa que sejam simples de implementar.

E a dificuldade não está apenas no fato de envolver tecnologias. Antes das tecnologias é necessário adotar planejamento e método. Eu sempre repito que o primeiro passo de qualquer projeto de inovação ou transformação digital é realizar um mapeamento de processos. Ainda que isso seja uma disciplina normatizada, na prática significa literalmente mapear todos os fluxos operacionais de trabalho e informação que acontecem no escritório. Sem isso, existe um risco enorme de se contratar ferramentas que não serão bem aproveitadas ou sequer irão funcionar.

Além do mapeamento de processos, realizar um planejamento também é imprescindível. Criou-se um mito de que planejamento estratégico só se aplica a empresas de grande porte. Ledo engano. Idealmente até um empreendedor que trabalha com um carrinho de pipoca deveria ter seu planejamento. Escritórios de advocacia não fogem à essa regra, afinal são empresas com CNPJ que precisam obter lucro para sobreviver. Quando o mundo era mais simples até que era possível “ir levando” sem um planejamento. No cenário complexo atual, não é mais viável.

A Transformação Digital é uma jornada, não um calvário

Como já foi dito no início, o Direito 4.0 é uma jornada a ser trilhada. Ele tem início, mas não terá fim, pois as transformações no mercado não irão parar. Mais do que tecnologias, a transformação digital é sobre adotar uma mentalidade voltada à inovação constante. Isso se aplica a escritórios de todos os portes e áreas de atuação. E isso é plenamente possível para todos.

O sensacionalismo e a urgência de alguns veículos de imprensa com informações superficiais e desconexas poderão causar ansiedade e insegurança. Não caia nessas armadilhas. Ainda dá tempo de iniciar e se manter relevante no mercado. Só é necessário começar do jeito certo: com planejamento e método.