O Metaverso está revolucionando nossas vidas e eu posso provar
- Criado em 11/10/2022 Por Caroline Francescato
E falar de metaverso tem ficado cada vez mais comum, afinal virou assunto do momento desde outubro de 2021, quando o dono de boa parte dos dados mundiais, senhor Mark Zuckerberg, revelou ao mundo que estava mudando o nome da sua companhia de Facebook para Meta. E através desse artigo, gostaria de mostrar para vocês e de forma mais didática possível, revelar o porquê esse novo mundo chama atenção dos fundadores das big techs, afinal Bill Gates (aquele que previu a pandemia) também já falou que acredita no sucesso do metaverso.
Mas vamos começar do princípio, o que é Metaverso?
Metaverso nada mais é que uma nova fase da internet que permite criadores estarem conectados e imersos em um mundo digital principalmente através de ferramentas de realidade aumentada e realidade virtual, criando o que muitos estão chamando de “fidigital”, um mundo que mistura as realidades física e digital. (Obs.: lembro que existem vários conceitos de metaverso, ainda estamos evoluindo no assunto e provavelmente veremos ainda muitas definições).
Podemos dizer que essa nova fase é uma evolução da Web (World Wide Web). Quem não lembra quando falávamos: “quando chegar em casa entrarei na internet”, essa era a chamada Web 1.0, aquela que acessávamos através de computadores pessoais e que a única coisa que conseguíamos fazer era visualizar conteúdos e páginas estáticas. Foi então que nomes como Steve Jobs, desenvolveram os “smartphones” e nos deram a possibilidade de acessar a internet de qualquer lugar. E de forma complementar, novamente ele, Mark Zuckerberg, acompanhado de outros empreendedores, lançaram as redes sociais e, então, não mais apenas líamos conteúdo na Web, mas também podíamos escrever e compartilhar informação, bem-vindos à Web 2.0. Neste momento, as redes sociais nos permitiram interagir, abrir horizontes para uma nova forma social e tudo isso a um “preço camarada”: todos os nossos dados e uma restrição daquilo que postamos de acordo com suas próprias políticas de uso (um preço que Donald Trump entendeu bem).
Essa evolução da internet e dos meios de comunicação nos permitiu chegar à nova Web 3.0, a qual veio quebrar diversos paradigmas, dentre eles: permitir a troca de valores (não apenas trocas de informações), transferir o poder das plataformas para os criadores de conteúdo e, por consequência, trazer um grande movimento de re-descentralização da internet. Esses três pontos são a chave para decifrar o porquê o metaverso pode transformar o mundo e suas relações, sejam elas comerciais ou sociais. Bora falar de cada um deles?
Antes de falarmos sobre o poder da transformação que a troca de valores irá trazer, precisamos entender a tecnologia responsável pelo “boom” do Metaverso ser apenas atualmente em 2022 e não lá em 2003 (RIP Second Life). E essa tecnologia foi nada mais nada menos que o blockchain.[1] O termo blockchain teve sua primeira aparição em 2008, em um artigo acadêmico publicado por Satoshi Nakamoto, o qual dava origem à criptomoeda Bitcoin.
Mas como podemos definir o que é blockchain? Imagine um livro-razão compartilhado que permita que empresas, governos, comunidades e aplicativos troquem ativos de forma programática e transparente uns com os outros, sem exigir custodiantes, corretores ou intermediários e que registrem todas as transações? Isso nada mais é do que blockchain (em poucas palavras é claro). Uma das grandes dificuldades antes ao surgimento do blockchain era garantir a segurança de operações com moedas digitais, tendo em vista que a transação poderia ser realizada duas vezes (diferentemente, por exemplo, com papel moeda). Foi então que se criou uma tecnologia que ao envolver uma rede de computadores (chamada de nós) para validação e registro de toda e qualquer transação, inviabiliza fraudes e torna o sistema muito mais seguro, salvando todas as informações em blocos (vulgo blockchain).
Isso é tão transformador quanto o surgimento da internet original, afinal a tecnologia blockchain permitiu registrar toda e qualquer operação de forma muito segura e possibilitou o registro da propriedade de todo e qualquer conteúdo, fazendo com que um bem infungível possa ser vendido, as chamadas NFTs[2].
[1] Aqui não estamos considerando outras tecnologias que são importantes para essa mudança atual como a evolução do 5G e a computação em nuvem.
[2] Uma explicação rápida sobre NFT (tokens não fungíveis): são uma maneira de conferir e autenticar propriedade de um item digital exclusivo por meio de um blockchain. Por exemplo, quando falamos de dinheiro, temos um ativo fungível, afinal uma nota de 2 reais vale os mesmos 2 reais. Quando falamos de bens não fungíveis, o item pode ser da mesma categoria, mas não ter o mesmo valor, por exemplo, uma obra de arte não necessariamente vai ter o mesmo preço de outra obra de arte. E quando falávamos em ambiente digital, era muto difícil darmos valores aos ativos não fungíveis, porém, através de sua transformação em token pelo registro em blockchain, conseguimos que esses bens sejam passíveis de troca e venda por diferentes valores.
Temos, dessa forma, a possibilidade de um meio interoperável de armazenamento, troca e programação de propriedade, moedas, ativos e até mesmo identidade. Aqui é o momento que tiramos o poder das redes sociais para que criadores criem seus próprios ativos e redes, concretizando uma nova fase de possibilidade de troca de valores.
Agora imagine, atualmente, você utiliza o login do Facebook ou do Google para ingressar em plataformas, esses dados estão na mão dessas grandes companhias. Porém, nessa nova fase, tudo tem caminhado para um modelo inverso, em vez de uma empresa ter os seus dados, você será o proprietário deles e decidirá com quais quer interagir. Surge então a descentralização da identidade (o que temos dado o nome de DIDS – decentralized identifiers). Conseguiram imaginar o poder dessas mudanças e o porquê o metaverso é algo que tira o sono dos donos das big techs?
E não apenas a descentralização da identidade, mas também das companhias. Através de contratos inteligentes[3] podemos estabelecer um novo formato de governança de empresas. Ao comprar um token não fungível, o comprador poderá definir o futuro da organização e seus novos passos, nascendo assim as chamadas DAOs (organizações autônomas descentralizadas). As DAOs não possuem um corpo diretivo central, cada membro poderá opinar sobre o futuro da organização, colocando novamente o poder na mão de não apenas um agente, mas de uma comunidade.
Por consequência a tudo que tratamos, surge o terceiro ponto de evolução da Web 3.0: a re-descentralização. Atualmente, temos muitas plataformas que centralizam conteúdos e informações, um exemplo o Spotify, centralizador de músicas. Com as novas possibilidades de registro em blockchain, cada criador pode ter sua própria música registrada e apenas fazer a sua distribuição, sem precisar contar com plataformas como o Spotify, decidindo até mesmo a divisão de royalties através de contratos inteligentes. Mais uma prova que estamos transferindo o poder das empresas para as mãos dos criadores.
Contudo, um dos grandes desafios que vejo atualmente para o metaverso é a interoperabilidade de tudo, afinal após o registro, queremos levar nossos avatares e ativos conosco para qualquer plataforma. Esse é um passo importante ainda a ser dado na evolução da Web3, fazendo com que essa estrutura do metaverso seja utilizada de maneira fácil para realizar todas essas trocas econômicas disruptivas e que irão revolucionar as relações sociais e nossas vidas.
Com toda certeza, uma internet descentralizada tem um grande benefício: você será responsável por ela. Seja você um criador (explorando seu produto) ou um explorador descobrindo as melhores experiências, mas ao mesmo tempo controlando os seus dados. Deu para entender o poder que o metaverso e seus elementos têm nas mãos? O poder de nos tornar donos de nossos dados, de nos dar a possibilidade de criar nossos próprios mundos virtuais, nossas próprias comunidades. Espero que assim como eu, todos estejam ansiosos para as cenas dos próximos capítulos. Bora escrever esse futuro do metaverso juntos? Logo mais volto para mais novidades sobre o tema.
[3] Ferramentas que podemos determinar sua execução automatizada por meio de blockchain
Autora:
Caroline Francescato
Advogada, CEO e fundadora do LinkLei, primeira rede social jurídica, professora de Direito e Tecnologia.