Você já pensou num plano B para sua advocacia?
- Criado em 14/05/2020 Por Maico Volkmer
Então, essa questão não é consenso, assim como a jurisprudência dos nossos tribunais (risos).
Alguns advogados dizem que o mercado está saturado, que existem muitos profissionais, que existe pouca demanda. Por outro lado, alguns dizem que não está, que estes profissionais precisam se reinventar e parar de vitimismo.
Certo é que os fóruns e tribunais estão abarrotados de processos. A lentidão do judiciário é uma questão real e isso impacta diretamente na receita dos escritórios, já que a grande parte dos honorários, o grosso mesmo, se recebe ao final do processo.
Salvo algumas áreas específicas ou consultivas, que recebem antes do trânsito em julgado ou sem judicializar.
Tenho presenciado inúmeras discussões em grupos de Facebook sobre a dificuldade do início de carreira, os baixos salários oferecidos, a inviabilidade de abrir o próprio escritório e tudo que perpassa esse universo do advogado iniciante e até alguns colegas com mais bagagem, já que a advocacia não é “a prova de crises”.
Nesse sentido, creio que tenha que deixar registrada minha visão sobre o mercado, para que o leitor compreenda os próximos parágrafos.
Existem muitos profissionais? Sim. Existe demanda para isso? Vejo igualmente que sim. A advocacia ainda é viável? Com certeza. O retorno é rápido? Não.
Declarada minha visão passaremos ao tema central: construir um plano B. Se você acredita que não precisa e que a advocacia, por si só, vai lhe trazer resultados suficientes, sugiro que pare a leitura por aqui.
No entanto, vai o meu alerta, de que, mesmo que sua advocacia se consolide (e isso vai acontecer, estou certo!) vai levar um tempo e nesse intervalo, você já pensou como vai pagar as contas se não tiver uma reserva financeira ou o apoio de alguém?
COMO CHEGUEI A ESTE ASSUNTO?
Sou advogado, tenho meu próprio escritório, em carreira solo e há cerca de um ano tento me sustentar com ele. Antes, mantinha um emprego 40h em paralelo. Não me “apertei” ainda em termos financeiros, mas minha decisão foi bastante planejada.
Nesse caminho, aprendi bastante, inclusive que a advocacia demora muito para dar retorno. Segundo minhas pesquisas, de 02 a 03 anos, mas, já vejo colegas falando de 04 a 05 anos e, a partir disso, passei a pensar num plano B.
Pode ver com ceticismo as informações acima, mas é o que acontece comigo. Pode ser igual com outro profissional ou o retorno pode ser mais rápido ou pode ser mais demorado, é uma série de fatores imprevisíveis e, cada caso, é um caso.
Se você conseguiu ter retorno antes de um ano advogando, parabéns! Ah, me conta como?
Mas, não é o que vemos. A realidade mostra uma grande maioria de escritórios fechando, encerrando atividades porque não se mostram viáveis financeiramente.
A economia interfere nisso? Com toda certeza. E nós, advogados autônomos, sempre estaremos à mercê do momento econômico e dos negócios realizados entre as pessoas. É daí que surgem os imbróglios que somos chamados a resolver.
MEU PLANO B
No final do ano passado, fiz o curso Técnico em Transações Imobiliárias. Iniciei em maio e terminei em dezembro, na modalidade EAD.
São áreas diferentes, mas que guardam algumas semelhanças. A idéia apareceu quando comecei a ser procurado para ações de despejo e situações que envolviam contratos imobiliários. Percebi ali que tinha demanda para bons corretores, apesar de existirem muitos no mercado.
Da mesma forma, existe espaço para bons advogados, ainda que existam muitos profissionais no mercado.
Investi na corretagem (detalhe: ainda não solicitei minha inscrição como corretor) pois vejo boas possibilidades de administrar aluguéis e, de vez em quando, vender alguns imóveis, apesar de esse não ser o principal objetivo. A idéia é administrar aluguéis para gerar um fluxo de caixa com entradas mensais, já que sabemos que na advocacia só se tem ganhos fixos mensais com assessorias e na minha cidade, que é pequena, não existe muito mercado para isso.
AINDA DÁ TEMPO DE COMEÇAR A PLANEJAR…
Se você não tem um plano B, ainda dá tempo de começar a pensar nele. A advocacia permite muitas atividades em paralelo. Você pode inclusive “vender” produtos.
Um deles é a assessoria fixa para empresas. Outro é a criação de cursos relacionados a sua área de especialidade. Por exemplo, se você atua na área trabalhista, pode criar um curso para setores de recursos humanos de empresas ou para departamentos de pessoal de escritórios de contabilidade.
Se atua na área cível, pode desenvolver treinamentos de maneiras para evitar a inadimplência e oferecer para lojistas e pequenos comerciantes e prestadores de serviço.
Pode ser palestrante. Claro, até chegar num bom cachê por palestra leva um tempo também, mas não deixa de ser uma alternativa.
Ter um emprego, em tempo parcial, em outra área, também é uma possibilidade. Aliás, conheço muitos advogadas que tem escritório e não ficam por lá o dia inteiro. No turno inverso ou mesmo fora de hora, exercem outra atividade remunerada.
RESUMINDO…
O início não é fácil. Estabilidade na advocacia, não é fácil. Apesar de acreditar que estabilidade não existe, porque mesmo que você consiga cinco assessorias fixas, de uma hora para outra, pode perdê-las e sua estabilidade ruir. Por isso, precisamos sempre trabalhar com alternativas. E não é só na advocacia, acredito que estabilidade não existe. Nada é para sempre, tudo é transitório.
Veja, não estou dizendo que você deve abrir um escritório, “deixar acontecer” e fazer outra coisa enquanto não dá certo. Quero dizer que seu dia é longo e, com certeza, você pode encontrar alternativas que te apoiem enquanto o seu negócio não deslancha. Afinal, tempo é o que o profissional mais tem no início. Se você não tem ou está dizendo isso para se fazer de importante ou está focando nas prioridades erradas.
Mas entenda que se dedicar a seu escritório e fazê-lo crescer, seja por meio de networking, contatos, visitas, etc. é o mínimo que você pode fazer. Sem isso, nem comece a pensar em abrir seu próprio negócio.