Quando você propõe um processo judicial, o que você quer: ser feliz ou ter razão?
- Criado em 21/04/2020 Por Veridiana Tavares Martins
Resolver um conflito através de um processo judicial significa pedir ao Juiz, imbuído do poder que lhe foi conferido pelo Estado, que diga quem ganha e quem perde o litígio. A sentença judicial dirá quem tem razão frente a lei, determinando um ganhador e um perdedor, “doa a quem doer”.
Após uma sentença o placar da satisfação dos litigantes, normalmente é: uma das partes nem sempre totalmente satisfeita e, certamente, uma outra totalmente insatisfeita. Ambas insatisfações (a de quem perdeu e a de quem não ganhou tudo o que queria) poderão gerar recursos ou novos processos, formando um ciclo vicioso decorrente das insatisfações decorrentes das decisões judiciais. No processo judicial os litigantes buscam provar quem está certo, através da aplicação do que é “justo”. Mas não sempre o justo é “bom” para os envolvidos no conflito; os interesses nem sempre estão alinhados com o que juridicamente é possível postular através de um processo judicial.
Muitas vezes uma sentença judicial é, na prática, inexequível, ou sua execução trará mais transtornos do que satisfação e felicidade a quem “ganhou”. A pecha de “ganhador” e “perdedor” ficará entre as partes, tornando-se um grande obstáculo para um relacionamento harmonioso no futuro.
Quando alguém envolvido num conflito “parte para cima” do outro através de um processo judicial para provar que tem razão, corriqueiramente ocorre o afastamento do seu real interesse, ou seja, a meta deixa de ser a busca daquilo que o faria verdadeiramente feliz, mas passa a ser a ideia de que o outro precisa perder para se ganhar. Quando ter razão ao final do processo judicial torna-se mais importante do que ser feliz, a sentença nunca alcançará o objetivo de trazer satisfação.
Abrir mão da lógica processual de “ter razão” para “ser feliz” significa assumir o protagonismo da própria vida e tornar-se responsável pelas decisões que guiarão seu futuro. Uma maneira de fazer isso é substituindo o processo judicial pelos métodos autocompositivos de solução de conflitos tais como a mediação e a conciliação. Através dos métodos não adversariais a resolução de um litígio se dará através de uma construção conjunta dos envolvidos no conflito sem que alguém tenha que “perder” para a outra “ganhar”. Em verdade, a experiência demonstra que através dos métodos autocompositivos, é possível um esquema de solução do conflito do tipo “ganha-ganha”, isto é, todos os envolvidos no conflitos acabam por ter seus interesses contemplados em grande medida.
Ter em vista que não existem apenas duas possibilidades antagônicas em uma determinada questão e manter uma mente aberta para a construção criativa de inúmeras possibilidades de solução, assegura maior satisfação entre todos os envolvidos em uma disputa.
Então, quando você propõe um processo ou se vê envolvido num processo judicial, o que você quer: ser feliz ou ter razão?