Como inovar na advocacia sem tecnologia?
- Criado em 03/06/2020 Por Veridiana Tavares Martins
A relação “direito x sociedade” sempre foi anacrônica. O Direito como uma ciência viva e dinâmica está sempre à reboque da sociedade. Nesse contexto, para a entrega de um serviço jurídico adequado não adianta apenas o Direito mudar, o advogado também deve mudar. Vivemos uma época de mudanças aceleradas e o advogado precisa inovar, adaptando-se às exigência desse novo mercado.
A tecnologia está à disposição para fazer o trabalho repetitivo e absolutamente entediante, lawtechs e legaltechs vieram para otimizar o tempo dos advogados. Inovar é fazer o mesmo de forma diferente, explorando com sucesso novas ideias. Enquanto a advocacia do futuro for associada à Inteligência Artificial, usar a Inteligência Emocional será inovador. Diante dessas inovações tecnológicas, o profissional que deseja estar presente no futuro precisa mudar sua mentalidade e aprimorar novas competências.
Na era do compartilhamento e da sociedade líquida, há um movimento de resgate de valores sustentáveis e humanizados, nos quais busca-se compreender que a conexão humana é tão, ou mais, importante do que a conexão wi-fi. O cenário estabelecido demanda uma mudança de mentalidade e comportamento dos advogados e exige uma inovação disruptiva, isto é, uma forma de inovar que rompa com um processo padrão, ensejando uma mudança comportamental.
Como fazer isso? Uma possibilidade é desenvolvendo habilidades em lidar com conflitos de forma humanizada, valendo-se de elementos de avaliação subjetiva, onde os seres humanos não sejam tratados como um número. É importante compreender que, salvo as questões de direito público, sobre as quais não se tem muita ingerência, os processos que envolvem direito privado possuem sua origem muito mais ligada a insatisfação humana do que à violação de direitos.
Embora a legislação descreva "os direitos", inúmeras vezes a violação desses direitos, por si só, não é gatilho para ensejar um processo judicial. A experiência forense tem mostrado que a os processos são desencadeados, em sua maioria, a partir de sentimentos de insatisfação. Ou seja, o estopim de uma demanda judicial ocorre quando uma situação causa incômodo ou quando o sujeito sente que alguma de suas necessidades foram ou serão ameaçadas, trazendo trazendo insatisfação e busca da “justiça” através do processo judicial. A diferença é sutil; perceber onde a insatisfação age e como age, é o diferencial do profissional do futuro.
Nem toda insatisfação humana decorre da violação de um direito, mas isso não significa que o conflito não esteja instalado. Conhecer e compreender o conflito tornou-se uma competência essencial para quem quer inovar na advocacia.
O conflito ocorre a partir dos sentimentos frente a alguma divergência quanto a determinada situação ou assunto. Ele surge quando alguma necessidade é negligenciada ou ameaçada. A partir das necessidades humanas é possível compreender os interesses que movem as pessoas nas situações conflituosas, levando a uma melhor percepção do motivo de sua posição dentro do conflito.
Saber mapear um conflito é essencial para saber evitar processos. Para que um conflito torne-se um processo ele precisa “escalar” e chegar a um nível tão profundo a partir do qual as partes perdem a condição de por si só resolver eventual controvérsia.
O advogado que conseguir impedir que o conflito escale a ponto de tornar-se um processo estará efetivamente atuando na redução de riscos jurídicos para seu cliente. Entender como um conflito surge, as suas etapas e como ele escala até tornar-se um processo é uma forma de inovar na advocacia sem tecnologia.